Texto originalmente publicado em www.vitaforscience.com.br
CÂNCER DO PONTO DE VISTA OCIDENTAL
Na medicina ocidental, o câncer é convencionalmente visto do ponto de vista somático como um clone de células que superou suas restrições ambientais e mecanismos de controle. Essas células são anormais e são consideradas estranhas ao corpo. A filosofia principal do tratamento do câncer é a aniquilação direta das células cancerosas por meio de terapias agressivas e destrutivas.
CÂNCER DO PONTO DE VISTA DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) enfatiza a importância da rede de comunicação corpo-mente. A ciência da psiconeuroimunologia (PNI) demonstrou uma base fisiológica potencial para a progressão das células cancerosas por meio dos efeitos das emoções na imunidade celular e outros mecanismos.
Na MTC, o desenvolvimento do câncer é visto como parte das características de apresentação de uma síndrome que representa um desequilíbrio de toda a rede corpo-mente. Em outras palavras, o câncer é uma doença sistêmica desde o início, e o terreno é considerado tão importante quanto o próprio tumor.
Acredita-se que se for possível fortalecer e reequilibrar a rede corpo-mente, o padrão normal será restaurado e isso ajudará a resolver o câncer. Atualmente, esse conceito está sendo incorporado a uma ciência mais holística, em que a imagem inteira é tão importante quanto as partes: as metáforas usadas para conceituar a função das células cancerosas também mudarão dramaticamente. Por décadas, fomos capazes de prever com precisão o comportamento de um circuito integrado eletrônico em termos de suas partes constituintes – seus componentes de interconexão, processamento e emissão de sinais. Tendo mapeado totalmente a fiação de cada via de sinalização celular, será possível traçar o circuito “integrado” completo. Seremos então capazes de aplicar as ferramentas de modelagem matemática às células cancerosas. Com a clareza holística do mecanismo, o prognóstico e o tratamento do câncer se tornarão uma ciência racional.
Evidências recentes sugerem que as células-tronco da medula óssea podem desempenhar um papel significativo na perpetuação de alguns tipos de câncer, incluindo a produção de peptídeos pró-angiogênicos. Assim, a ciência ocidental está agora explorando a possibilidade de que tanto o câncer hematológico quanto o câncer sólido podem às vezes ser uma doença sistêmica desde o início.
Assim, quando a pessoa está saudável, a comunicação entre os sistemas flui livremente por meio de um complexo processo heterárquico e hierárquico não linear de transferência de informações, por meio de interações fisiológicas. Em outras palavras, o câncer pode estar associado a um distúrbio no fluxo de informações, manifestado por um sistema superplástico que perde a estrutura do processo e se torna irreversivelmente caótico.
CÂNCER EM MULHERES e os NÚMEROS NO BRASIL
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os três tipos de câncer que mais afetam as mulheres são os de mama (29,7%), cólon e reto (9,2%) e o de colo do útero (7,5%). Com adição do câncer de pulmão e traquéia, esses são os tipos que tem maior taxa de mortalidade entre as mulheres brasileiras.
A MTC e o TRATAMENTO DE CÂNCER
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem uma história que se estende por pelo menos 5000 anos e tem sido amplamente usada para promover a saúde e tratar doenças. Embora a MTC tenha aplicações tão amplas e seja uma parte importante na assistência à saúde diária em toda a Ásia, ela é geralmente aceita como um método terapêutico alternativo em muitas nações do mundo ocidental.
Na MTC, um dos principais recursos terapêuticos é o uso de fórmulas e ingredientes isolados que vêm da natureza. Os ingredientes são usados em combinações que aumentam seus benefícios enquanto reduzem seus efeitos colaterais. Com efeito, vários agentes farmacológicos de baixa dosagem estão sendo administrados sinergicamente. A medicina ocidental geralmente se concentra em doses máximas toleradas de agentes únicos.
Embora as drogas quimioterápicas sejam geralmente combinadas, o motivo é minimizar a resistência aos medicamentos e a consequência pode ser o aumento ainda maior da toxicidade dos medicamentos. De acordo com os praticantes da MTC, as fórmulas podem reduzir os efeitos colaterais dos medicamentos anticâncer, mas pesquisas adicionais são indicadas para determinar suas interações farmacocinéticas com os medicamentos e quaisquer efeitos adversos potenciais.
Em suma, os objetivos do tratamento do câncer devem ser aumentar a sobrevida dos pacientes tanto quanto possível e melhorar sua qualidade de vida. Assim, a MTC é capaz de apoiar os pacientes em tratamento com a medicina ocidental convencional (cirurgia, radioterapia e quimioterapia) por meio de quatro abordagens principais: modificação da resposta biológica para melhorar o ganho terapêutico; melhora da resposta psico-neuro-imunológica, aprimoramento do controle dos sintomas e integração psicofisiológica.
POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS
– Pacientes em quimio ou radioterapia: o uso de fórmulas da MTC ameniza os efeitos colaterais e toxicidades decorrentes dessa forma de terapia, além de consolidar os efeitos terapêuticos do tratamento e prolongar a vida do paciente. Dentro da estrutura conceitual da MTC, os efeitos colaterais desses tratamentos ocidentais constituem uma forma de patógeno quente (热 邪) que danifica o yin e os fluidos corporais do corpo, compromete a função de transformação digestiva do baço e do estômago e inibe a produção de Qi, resultando em várias síndromes associadas a esses efeitos colaterais. Os pacientes geralmente apresentam sintomas como língua e pigmentação escura, sugerindo estase de sangue, bem como pele seca e garganta seca; estes, por sua vez, às vezes se transformam em calor interno. Os tratamentos da MTC para essas síndromes incluem fortalecer o Qi e nutrir o Yin (益气 养阴), melhorar a circulação sanguínea e remover a estagnação do sangue (活血 化瘀), regular o Qi no baço e no estômago e tonificar o fígado e os rins.
As fórmulas comumente usadas para tratar essas síndromes são: Six Flavor Tea (Liu Wi Di Huang Wan), Moutan & Gardenia (Jia Wei Xiao Yao Wan), Angelica Sinensis (Dang Gui) e Crocus Sativus (Xi Hong Hua).
– Pacientes que foram ou serão submetidos à cirurgia: a cirurgia continua sendo a opção mais comum para tumores malignos em estágio inicial, pois pode ser extremamente eficaz e eliminar totalmente a doença. Cada tumor é diferente; portanto, cada um pode exigir um procedimento cirúrgico ligeiramente diferente. Certos efeitos colaterais pós-operatórios no corpo são comumente observados em pacientes com câncer, que a MTC caracterizaria como “esgotamento de Qi e dano ao sangue” (耗 气 伤 血). Isso, por sua vez, causa distúrbios nos órgãos vitais, nos meridianos e no equilíbrio yin-yang. Portanto, antes e depois da cirurgia, seria apropriado regular o corpo para atingir um bom estado de equilíbrio, tanto para preparar o paciente para o trauma da cirurgia quanto para ajudá-lo a se recuperar dele.
As fórmulas comumente usadas para tratar essas síndromes são: Ginseng & Longan (Gui Pi Wan), Ginseng & Astragalus (Bu Zhong Yi Qi Wan) e Angelica Sinensis (Dang Gui).