Compostos Bioativos: os benefícios do consumo de chá
por Drª Eleonora Comucci
Texto originalmente publicado em www.vitaforscience.com.br
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O Consumo de Chás
O chá é a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água. Muitos países ao redor do mundo são conhecidas por apreciarem os mais diversos tipos de chás, como por exemplo: a China, Japão, Reuni Unido e Turquia. Nesses locais o chá é um elemento cultural muito forte.
Algumas dessas populações mostram um perfil epidemiológico diferente de outras que não tem hábito de consumir a bebida. Esse perfil despetou (e desperta) em diversos pesquisadores a curiosidade de investigar essas propriedades benéficas.
A seguir conheceremos algumas dessas propriedades e quais são os alvos de interesse para manutenção da saúde!
Chá Verde (Camellia sinensis)
Esta bebida perfumada se originou na China em 2737 AC. Segundo o mito, um imperador chinês estava sentado sob uma árvore Camellia sinensis enquanto seu servo fervia água potável. O vento jogou algumas folhas da árvore na água e o imperador resolveu experimentar a bebida que seu servo criou por acaso. Dessa forma a cultura do chá verde foi estabelecida na China por vários séculos antes de chegar ao Ocidente – isso se deve às suas propriedades e sabor. Cerca de três bilhões de quilos de chá verde são produzidos e consumidos anualmente.
O chá verde é fabricado por meio da secagem de folhas de Cemellia sinensis frescas. Contém compostos polifenólicos característicos, (-)-epigalocatequina-3-galato (EGCG), 3(-)-epigalocatequina (EGC), (-)-epicatequina-3-galato (ECG) e (-)-epicatequina (EC). Esses compostos são comumente conhecidos como catequinas. Uma bebida de chá típica, preparada na proporção de 1 g de folha para 100 mL de água em uma infusão de 3 minutos, geralmente contém 250–350 mg de sólidos de chá, compostos por 30–42% de catequinas e 3–6% de cafeína. A EGCG é a catequina mais abundante e tem recebido de longe a maior atenção.
As propriedades mais amplamente reconhecidas dos polifenóis do chá são suas atividades antioxidantes, decorrentes de sua capacidade de eliminar espécies reativas de oxigênio. Os polifenóis do chá também se ligam aos íons metálicos, impedindo-os de participar das reações peroxidativas. Foi demonstrado que o chá verde e preto e os polifenóis isolados do chá eliminam as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, reduzindo seus danos às membranas lipídicas, proteínas e ácidos nucléicos em células.
Essas propriedades auxiliam em diversos aspectos, são eles: câncer, doenças cardiovasculares, obesidade, esteatose hepática, termogênese do tecido adiposo marrom e aumento da taxa metabólica basal.
Bitter Orange (Citrus aurantium)
O extrato de C. aurantium é amplamente conhecido como extrato de laranja amarga, um produto que é derivado dos frutos imaturos (verdes) da laranja. Também é conhecido como “Zhi Qiao” na medicina tradicional chinesa e é muito utilizado para promover a digestão e diurese.
O extrato de Citrus aurantium e seu principal constituinte protoalcalóide p-sinefrina estão amplamente presentes em produtos de controle de peso e como agentes termogênicos. Eles também são usados em produtos de desempenho esportivo para aumentar a resistência. O extrato de laranja amarga é usado em produtos para controle de peso devido aos seus supostos efeitos nos processos metabólicos, incluindo um aumento na taxa metabólica basal e lipólise, bem como supressão moderada do apetite.
Gengibre (Zingiber officinale)
O gengibre, que pertence à família Zingiberaceae e ao gênero Zingiber, é comumente consumido como tempero e um medicamento fitoterápico há muito tempo. A raiz de gengibre é usada para atenuar e tratar várias doenças comuns, como dores de cabeça, resfriados, náuseas e vômitos.
Muitos compostos bioativos no gengibre foram identificados, como compostos fenólicos e terpênicos.
Os compostos fenólicos são principalmente gingeróis, shogaols e paradols, que são responsáveis pelas várias bioatividades do gengibre. Nos últimos anos, descobriu-se que o gengibre possui atividades biológicas, como: atividades antioxidantes, antiinflamatórias, antimicrobianas e anticâncer.
Além disso, estudos acumulados têm demonstrado que o gengibre possui potencial para prevenir e controlar várias doenças, como doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia e distúrbios respiratórios.
Em um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, a ingestão de gengibre diminuiu os níveis de insulina, colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e TG; diminuiu o HOMA; e aumentou a sensibilidade à insulina em pacientes com DM2. Além de tratar, outras pesquisas mostram que o gengibre e seus compostos bioativos podem ter um efeito preventivo: proteger contra o desenvolvimento do diabetes mellitus e suas complicações, provavelmente diminuindo o nível de insulina produzido, mas aumentando a sensibilidade à ela.
Cúrcuma (Curcuma longa)
Os curcuminóides (naturais de plantas da família Zingiberaceae) são compostos fenólicos derivados do ácido ferúlico. A curcumina é um membro dessa família e contém duas moléculas de ácido ferúlico ligadas por um metileno, com uma estrutura h-dicetona em um sistema altamente conjugado.
Os curcuminóides não são usados apenas como medicamentos tradicionais chineses, mas também como especiarias comuns ou corantes naturais.
Esses compostos fenólicos têm sido bem estudados especialmente por suas propriedades antioxidantes potentes: realizam ação anticâncer e anticarcinogênica e antimutagênica.
Canela (Cinnamomum cassia)
Cinnamomum cassia é uma espécie arbórea aromática pertencente à família Lauraceae. Ela está distribuída na China, Índia, Vietnã, Indonésia e outros países. Da casca de seus ramos jovens se obtém a canela, amplamente utilizada em todo o mundo por sua fragrância e sabor picante.
Pode ser usada não apenas como condimento diário, mas também como matéria-prima para produtos médicos.
No ocidente é frequentemente usada como tempero, como um suplemento alimentar – especialmente por ser fonte de cumarina. Na Ásia, a canela é geralmente usado como medicamento.
Na China, desde 1963, a canela está listada na Farmacopéia nacional e existem mais de 500 fórmulas contendo esse ingrediente – muitas fórmulas com foco para tratar várias doenças, tais como: endocrinológicas e metabólicas, cardiovasculares, gastrointestinais crônicas, ginecológicas e inflamatórias.
Atualmente, muitos estudos têm sido feitos nas áreas de farmacologia e fitoquímica e mais de 160 compostos foram identificados na canela. Esses estudos confirmam que ela tem uma ampla gama de aplicações farmacológicas, incluindo ações antitumorais, antiinflamatórias e analgésicas, antidiabéticas e antiobesidade, antibacterianas e antivirais, protetora cardiovascular, citoprotetoras, neuroprotetoras e imunorreguladoras
Em termos de gerenciamento do peso e melhora do metabolismo energético, a canela parece aumentar a captação de glicose e a oxidação da glicose, bem como a síntese de glicogênio e a fosforilação do receptor de insulina – por isso ela é muito utilizada por pacientes diabéticos.
Em suma, todos os efeitos protetores naturais podem resultar da ação de substâncias complexas, desconhecidas ou menos conhecidas e até mesmo de um efeito combinado desse coquetel de antioxidantes presentes nas plantas – sejam de uso dietético ou medicinais.